Você que acompanha as minhas aventuras em busca de certidões, veja o que pode acontecer nos bastidores enquanto busco esses sonhos.
Como costumo dizer, a busca de certidões tem sido o meu trabalho dos sonhos. Tentando manter sempre uma certa programação, na primeira semana de Janeiro fui fazer uma viagem ao Norte da Itália, em busca dos tão sonhadas certidões dos antenatos italianos.
Dando continuidade à esse trabalho pelo qual tenho tanta paixão, esse onde eu posso viajar, conhecer lugares novos, conversar com diferentes pessoas, aprender muito e ainda por cima ajudar algumas pessoas que estão em busca da realização de um sonho: ser reconhecido como cidadão italiano.
Então, alguns dias atrás eu senti um pequeno medo pelas coisas estarem certas demais, perfeitas demais.
Como nada na vida é permanente, quando a gente entra nesse ciclo de coisas boas parece natural ter essa sensação de que alguma coisa “errada” irá acontecer.
Parece algo no interior dizendo, calma lá, não pode ser fácil assim o tempo todo, você está aqui nessa vida para aprender e evoluir, se a vida fosse feita só de coisas boas, a gente não saberia dar o devido valor!
Eu concordo, e aceito! Desfruto cada segundo quando chego àquele ápice de felicidade, porque tenho total consciência de que precisarei das minhas energias recarregadas quando algo parecer querer sair dos trilhos.
Ainda adepta à filosofia de vida de que tudo depende do modo como encaramos as coisas: os problemas? eles sempre virão! A maneira como a gente os encara é que faz toda a diferença.
Tudo acontece por uma razão, sempre!
Há 1 ano, desde que cheguei na Itália, pareço estar vivendo um sonho e algumas vezes sinceramente acho que as coisas que acontecem não são a minha vida verdadeira.
É uma sensação muito inexplicável e mesmo com tantos altos e baixos, dela não pretendo sair tão cedo, porque a amo.
Pois bem, 1 dia antes de acontecer todo o perrengue, dormi em um B&B a coisa mais linda, onde os donos eram um casal de senhorzinhos que pareciam ter saído de uma daquelas histórias antigas. Rs
O senhor muito educado e atencioso, e a senhora uma fofinha que dava vontade de abraçar sem fim. Me senti acolhida na casa deles, senti uma paz enorme. Era um daqueles lugares onde você sente a boa energia que transborda em cada cômodo.
Quem estiver na região de Rovigo, deixo aqui o link do site deles: Quo Vadis – Qui Vieni: “Sentirsi a casa, lontani da casa”. Super indico!
Tirando um pequeno detalhe de que a banheira era daquelas pra tomar banho sentado e eu com a minha cabeça de pessoa crescida em um país mais jovem, fiz o quê? Quis tomar banho de pé, é claro! Não deu outra, me esborrachei na banheira que nem sei como foi. Foram 5 segundos que a minha mente não consegue se lembrar… hahahahaha
Tudo sob controle! O que são mais dois ou três roxos para uma pessoa desastrada? Nada não! Rs Lá estava eu de banho tomado e pronta pra sair!
Resolvi jantar no restaurante onde o senhorzinho me indicou, paguei um pouco à mais do que estou acostumada a gastar, mas como já tinham 2 dias que fazia só 1 refeição por dia, achei que valia a pena ir em um desses restaurantes locais onde só os próprios italianos conhecem. Onde se come de um jeito maravilhosamente bom e o garçom até senta junto com você para te explicar o menu e trazer tudo o que você mais gosta.
Voltei para o B&B com uma sensação esplêndida.
Depois de já estar viajando há 2 dias de carro, livre, fazendo meus próprios horários, responsável única e exclusivamente por mim mesma, passando pelas paisagens incríveis que essa nossa Itália nos proporciona, eu estava cheia. Transbordando de tanta satisfação pela vida. Que dia!
Um dia para viver pois é quase impossível de se descrever. Parecia apenas mais um dia, com uma simplicidade plena, porém ficará pra sempre em minha memória.
No dia seguinte acordei, tomei o meu café da manhã que às 10h em ponto eles trouxeram na mesa conforme o acordado. Tudo feito com muito carinho!
Peguei minhas malas, tirei uma última foto daquele lugar e mais uma vez parti para a estrada.
Meu carro, esse que me levou para tantos lugares aqui na Itália, velhinho e muito guerreiro, já estava pedindo arrego há algumas semanas.
Eu, com a minha teimosia de achar que o meu santo é forte e os anjos sempre irão me proteger, de fato eles me protegem, mas como diz o meu pai: esses anjos uma hora não aguentam mais de tanto que você se coloca em perigo!
Eis que de fato esse dia chegou. O meu carrinho pifou!
O que eu achava que era apenas um problema de bateria, já que às vezes ele não ligava de primeira e tinha q dar uma mexida na bateria pra ele funcionar, não era apenas isso. As luzinhas do painel acendiam e apagavam, e isso não me fez perceber que o problema era muito maior. A luz que acendia não era por acaso, é óbvio! Era simplesmente pra dizer que o óleo estava vazando.
Ouvi um barulho diferente no caminho, mas no meio da auto estrada eu não quis parar e nem saberia o que fazer se resolvesse parar. Agora eu sei, agora eu sei.
Diminuí a velocidade e pensei: se ele explodir eu tenho que achar um jeito de pular! hahahah
Ele ainda foi muito guerreiro e quando quase parou na saída do pedágio no meio da auto estrada, eu conversei com ele e pedi: por favor, pega, por favor!
Ele pegou, e me deixou chegar na entrada da cidade de destino, ali ainda consegui encostar e ele se foi.
Liguei para o seguro e 1 hora depois chegou o guincho. O moço bateu a chave e ele pegou, porém na hora ele já disse que era problema no motor.
Na hora falei: não moço! Acho que é só a bateria, está solta e dando mal contato!
Levamos o carro na oficina mais próxima, eles abriram o capô, ligaram o carro e checaram o óleo, pois é, estava sem nem uma gotinha de óleo.
Imaginem só eu tentando argumentar sobre mecânica com 3 italianos com sotaque do Norte. Não entendo “un cazzo” de mecânica em língua alguma, imaginem em italiano… a frase mais importante de entender e que jamais vou esquecer foi: “il motore è fuso”.
É pessoal, ganhei um motor fundido no meu curriculum de vida! Rs
Para consertar levaria dias e custaria o dobro do valor do carro.
O moço do seguro levou meu carro para o depósito até que eu conseguisse falar com a central do seguro e decidisse o que fazer.
Como eles não me retornavam e ele precisava ir embora, me deixou na estação de trem da cidade com as minhas malas e ali, mais uma vez eu estava sem ter onde dormir, sem carro e sem saber o que fazer.
Engraçado, tive a sensação de que já havia enfrentado isso antes, e de fato já tinha!
Me encontrei em uma cidade no meio do nada, há 5 horas de casa, com o carro no depósito pra ser demolido e sem ter pra onde ir.
Parei, olhei para os lados e ao invés de me desesperar, entrei em um bar, pedi um chocolate quente e um lanche, e ali comecei a pensar no que fazer.
Graças à Deus tudo tem seu lado positivo! Com a ajuda do namorado incrível e daqueles que são a minha família aqui, arrumei forças para manter a calma.
Decidi bookar um hotel (o mais barato possível) para passar aquela noite. À essa altura, o seguro do carro havia me ligado dizendo que eles cobriam até 260 euros para que eu voltasse pra casa e cuidariam da demolição do carro sem que eu tivesse custos.
Sim, além de perder o carro, você ainda precisa pagar pra destruí-lo!
Demorei para me conformar de que teria que demolir o carro, por culpa minha, por não ter levado na oficina quando eu percebi que havia algo de errado com ele, e pior, forçá-lo nessa viagem onde rodei quase 800km em apenas 3 dias.
Meu pai tinha razão, eu não devia dar tanto trabalho assim para os meus anjos da guarda. À mim eles continuam dando conta de proteger, mas dessa vez, o carro não conseguiu resistir.
Lesson’s learned!
O que resta pensar é que às vezes algumas perdas, não são perdas, mas sim livramentos. Deus nos tira algo para depois nos presentear com outra coisa que será melhor para o que precisamos.
É minha gente, não é nada fácil ser adulta e estar totalmente longe da família. Às vezes acho que eu preferia quando era a minha mãe quem decidia por mim! Rs
Quando eu cheguei nessa vida ninguém me disse que seria nesse nível hard.
A gente fica cansada, a gente chora, a gente tem que tomar conta da casa, tem que tomar decisão em cada coisinha, no que vai comer quando acordar, se foi no mercado, se olhou a água e o óleo do carro, se tem gasolina, se ainda tem calcinhas limpas, se comprou pasta de dente e shampoo, se tirou o lixo, se pagou as contas, se a correspondência chegou, se o gás tá desligado, se a água tem pressão, se a caldaia está funcionando bem, se tem trabalho suficiente pra manter essa vida, se vai ter dinheiro no próximo mês pra sustentar tudo isso… e por aí vai.
Não é nada fácil! Mas nada é capaz de derrubar a vontade de lutar em busca dos sonhos que dão sentido à minha vida.
Um dia a gente fica lá pra baixo, no outro a gente levanta, coloca as coisas no lugar, ergue a cabeça e continua seguindo em frente. E assim, um dia após o outro, vamos vivendo essa aventura chamada vida do jeito que escolhemos vivê-la!
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Veja que não importa o que aconteça, a minha missão será sempre fazer com que esse sonho em forma de certidões, chegue em suas mãos.